domingo, 15 de março de 2009

Não sei, só sei que foi assim![1]

Tudo começou com uma dança. Um corpo de dança, que me apresentou uma dança. Uma dança de olhar sério, coração distante e alma doente, tão doente que não pode perceber que além das mãos que conduziam seu corpo havia um olhar que buscava ser correspondido. Não foi. O mundo é um “redor”
[2] e por isso, meus olhos e minha alma se encheram de vida, e uma nova dança me foi concedida! Dessa vez olhei nos olhos, na boca, na voz, nas mãos, nos sentidos e aceitei o convite do Universo. Um Menino sem explicação derrubou todas as minhas certezas, invadiu meus sentidos, bagunçou uma ordem que me ensinaram a crer. Sem rótulos, sem verdades, sem palavras. Sentir, agir, ser. Mas livrar-se de anos de certezas não é fácil...Sem promessas você ficou. Não tentei te saber, nem te gostar. Bobinha, isso não é minha escolha. Por ironia, eu tinha uma certeza: suas asas são maiores que suas raízes, sua vontade de ser é maior que vontade de que te saibam. Ah Menino, como sou feliz por te encontrar ou por ter sido encontrada, por um encontro. Obrigada por beijar, obrigada pela carona, obrigada pela cama, obrigada pela conversa, obrigada pela taça de vinho e pelo copo de cerveja, obrigada pela pizza e pelo pastel, obrigada pela Centopéia, obrigada pelo filme, obrigada pelas discussões teóricas, obrigada pelas discussões, obrigada pelo mal-humor, obrigada pelos abraços, obrigada pelo silêncio, obrigada pelos sorrisos, obrigada pelas bolinhas, obrigada pela música, obrigada pela poesia, obrigada pela grama, obrigada pelas lágrimas, obrigada pelas risadas, obrigada pelo suco, obrigada pelos vídeos, obrigada pelo colchão e pelo chão, obrigada pelos museus, obrigada pelas ruas, obrigada pelas cocadas, obrigada pelo sofá, obrigada pelos sanduíches, obrigada pela arte, abrigada pela sinceridade, obrigada pela partida, obrigada pelo passo adiante, obrigada pelo não “dá mais”, obrigada pelo “não sei o que o que acontece mais acontece (dentro de mim e por ti)”, obrigada pela vida, obrigada pelas cores, obrigada pela solidão, obrigada por sentir, obrigada pelo incerto, obrigada pela dança, abrigada pela rasteira. E quando acho que já estou deitada e suja o suficiente, vem você Menino me provar que ainda tem mais. Na dança com as palavras, meus pensamentos se confundiram, me confundiram. Não pude negar as dúvidas que inquietavam meu coração. Pobre guria, mal sabe que o que lhe afligia é a maior mentira que já lhe contaram. O humano não foi feito para um alguém. Não há príncipe encantado. Fechei os olhos. Apertei o quanto pude, mergulhei na solidão, não sufoquei as lágrimas, nem a tristeza (que ainda bate). O Menino foi para o mundo, cheio de incertezas, com sua arte e sua poesia fazê-lo mais bonito. Não pude conter meu desejo egoísta de querer que o mundo dele fosse eu. Guardei o desejo, para compartilhá-lo apenas em mais uma carona e um beijo de até logo. Quando achei que estava no chão e muito, muito suja me sujei mais com a dor das lembranças do que não vivi, mas sorri e aceitei a imperfeição do mundo, da vida. Lembro de uma frase do Drummond “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Não sofro tanto, só quando escorrego e sem querer encontro às provas dos seus encontros, que não são comigo. Perdoai, Senhor ela não sabe de nada. Essa guria não sabe de nada. Luto contra o desejo de posse. Mergulho na solidão e encontro a beleza e a poesia do mundo. Como um pacto comigo mesma me impedi de te pedir qualquer coisa, me proibi de te procurar, não posso te encontrar agora, porque agora eu também estou de partida. O que sei, o que sou, o que sinto, você vai saber (você precisa saber... é lindo!) porque mais uma vez tem uma certeza no meu “ser”: agente ainda se encontra. Sabe porque? Eu também não. Mas agora fazes parte de mim. Te saber e te gostar já não preciso falar. Eu não escolhi, apenas senti. Começou com uma dança, que se seguiu de uma caminhada, que constituiu caminhantes, que escolheram sair de si para sentir, visitar, experimentar o mundo. Abri os olhos, meus sentidos, não para ver a verdade, mas para não perder mais nenhum detalhe. Para contemplar o céu, para sentir o vento contornar meu corpo, para flutuar ao invés de caminhar, para saber outras pessoas, para ver poesia até em um joelho roxo! Caminhar é preciso (alguém inteligente, que me perdoe eu não lembro, disse isso)!
Um beijo e até!

[1]Fala do célebre personagem do Auto da Compadecida, Chicó
[2]Explicação de um João, que não é de barro, para uma forma arredondada, um círculo ou coisa parecida.

2 comentários:

Aline disse...

A centopéia tem e encontrado em constante mutação. Ao longo de seus dias tem trocados alguns pares de sapatos velhos por novos e ainda está aprendendo a caminha com eles. Está um pouco complicado, pois ela era apegada demais a alguns pares. no entanto, aos poucos ela vem descobrindo q o amor verdadeiro nunca morre transforma-se em outra beleza!
BjOoO

maisa disse...

chorei...claro.