terça-feira, 31 de março de 2009

A peça até era cômica...mas arrancou do meu semblante no máximo alguns sorrisos. Não que a peça fosse ruim, ao contrário...Hoje o teatro não me arrancou gargalhadas, mas deixou minha alma leve. O cenário, o vento fresco que adentrava pelas enormes janelas, a cortina que esvoaçava, a penumbra, a música, o palco! Hoje foi esse cenário que me fez feliz, que me fez lembrar, que me fez sorrir, que fez amar...e lembrar o quanto eu ainda amo! O espetáculo, ser outro e ser o mesmo, ficcionalizar, dançar entre jeitos de ser e arranjar um outro jeito de ser!!!!
Sobre ritmos...tempo e temporalidade

Nunca pensei que dançar exigisse tanto de mim. Ontem, durante a aula de dança fiquei me perguntando porque tenho tantas dificuldades com os ritmos? Considerando a pouca prática de técnicas de dança (dançar até danço, mas a técnica...é minha!) e a genética (que eu saiba não tem nenhum bailarino na família) ainda assim, é limitação de mais. Além do que, a sala estava cheia e a dificuldade não parecia apresentar-se somente a mim. Onde aprendemos a abandonar o ritmo? Onde aprendemos a tolher o corpo? Minha intuição, algumas discussões e leituras me apontam uma resposta. Isso me angustia. Perceber o que há e o que quase ninguém vê. O ritmo é do corpo: caminhar exige um ritmo, escrever, desenhar, falar e comer também! Não estou menosprezando a dança, bem pelo contrário. A linguagem que diz respeito ao corpo é a mais negligenciada na escola. O que estou tentando evidenciar é que temos um ritmo e que imprimimos ele no mundo, pelo menos uma parte dele. Voltando aos questionamentos. A aprendizagem que a escola promove, muitas vezes, restringe as aprendizagens aos estímulos neurológicos. O corpo torna-se "refém" de uma classe, uma sala, uma escola, um professor, uma direção e por ai se vai. O que se movimenta realmente é o tronco. Tronco. Talvez eu tenha me tornado uma árvore mesmo, dura. Mas uma árvore com bastante galhos e folhas, que não resiste ao vento e sacode o pensamento. Penso que tenho muitos sentidos, espero que alguns não tenham enferrujado!
Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena

Clarice Lispector

segunda-feira, 30 de março de 2009

Tenho a vida doida
Encabeço o mundo
Sou ariano torto
Vivo de amor profundo
Sou perecível ao tempo
Vivo por um segundo
Perdoa meu amor
Esse Nobre Vagabundo...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Uma surpresa, uma saudade e um desejo

Primeiro um presente, que trouxe a alegria com uma dedicatória, e então as lágrimas de felicidade. Um pequeno gesto, um livro com dedicatória: uma grande surpresa
Logo a ligação...a alegria mais uma vez saltou de mim em forma de lágrimas: uma saudade. Uma triste felicidade. Apesar da distância física, nunca senti alguém tão próximo de mim.
Então o chocolate. Aquele que eu tivera vontade de devorar a semana inteira: um desejo.
Um livro com dedicatória, uma triste felicidade e um desejo.

Já é quase meu aniversário. Ou já é...já sinto que é, o relógio diz que não, mas meu eu diz que sim! Nunca me senti tão plena, tão humana. Nunca senti tanto, nunca me faltaram tantas palavras...elas nunca foram tão insuficientes.
Hoje é meu aniversário, é só mais um dia. Mas agora ele é especial porque eu tenho um livro com dedicatória, uma triste felicidade que bate a porta e um chocolate...isso é o que o torna especial.

Ainda tem mais: um beijo e um abraço com amor sem fim, um abraço sincero de irmã e uma mensagem da amiga!

Ainda tem mais...

terça-feira, 24 de março de 2009

Não foi no outono que te vi
tampouco que te conheci
Nem sei se te sei
Sei te sentir
como o vento que se mistura com a umidade da manhã
ou o frio da madrugada que convida a contemplar o céu
Como as folhas que brincam ao vento...
ou as árvores nuas, que se insinuam umas para as outras
em uma dança secreta...
Como os dias que são convidativos para sair
e as noites para ficar
só um pouco mais
Não foi no outono que te vi
nem sei se te sei
Sei que me passa...
mas não passou

segunda-feira, 23 de março de 2009

Saudade: é o amor que fica!

domingo, 22 de março de 2009

Preciso demais desabafar
Cenário de uma festa: pessoas dançando, conversando, bebendo, sorrido...
Cenário de uma mesma festa: pessoas trabalhando, "catando" coisas do chão que outras pessoas acabaram de jogar, trabalhadores (pessoas) circulado como fantasmas por entre pessoas.
Elas são diferentes porquê? Não imagino que deveriam passar dançando ou rebolando enquanto cumprem sua jornada de trabalho! Mas não ver uma pessoa? Ignorá-la ao deixar cair no chão restos? Sujar sabendo que a criatura ali ao lado vai ter que se submeter a algo que talvez a própria pessoa não se submeteria? Ok, todos precisam de um emprego, de dinheiro, de ter o que comer. Mas somos dignos com o outro? Trabalho digno. Dizem que todo trabalho é digno...talvez...mas confesso que várias vezes parei de conversar, de dançar, de tomar...para olhar, para pensar que tipo de ser humano somos? E onde fica a dignidade ao tratar com nojo um trabalho, um trabalhador, uma pessoa? Que dignidade pregamos que não é possível exercer?
Outra coisa...e talvez a pior de todas para mim...das pessoas que trabalhavam na festa (posso dizer nas festas!) 99% são negras, quando se encontra um branco, ele está em uma função digamos que mais visada...ou melhorada. Para alguns mais digna! Eu diria que mais respeitada pela maioria!
Talvez isso não diga nada, mas me angustia ver e não falar! Talvez eu esteja sendo radical no "meu ponto vista". Mas se tem uma coisa que me perturba é a indignidade com que tratamos o outro, o lugar indigno que colocamos o outro. Nos sentimos tão poderosos a ponto de fazer isso!
São só pensamentos pipocando em uma tarde de domingo!

quinta-feira, 19 de março de 2009

APRESENTANDO O AMOR...

Não me venha falar de Razão...não me cobre Lógica
...não me peça Coerência...
Eu sou pura Emoção!...
Tenho razões e motivações próprias...sou movido por Paixão...
Essa é a minha religião...a minha ciência...
Não meça meus sentimentos...nem tente compará-los a nada...
Deles sei eu...Eu e meus fantasmas...
Eu e meus medos...Eu e minha alma...
Suas incertezas me ferem...mas não me matam!...
Suas dúvidas me açoitam...mas não deixam cicatrizes...
Nao me fale sobre as nuvens...
Eu sou o Sol e a Lua...
Não conte as poças...
Eu sou o mar...profundo...passional...intenso...
Não exija prazos ou datas...eu sou Eterno...
Não imponha condições...
Eu sou absolutamente incondicional...
Não espere explicações...não as tenho...apenas "aconteço"...
Sem hora...local...ou ordem...
Vivo em cada molécula...
Você não pode me ver...mas pode me sentir...
Estou tanto na sua solidão...quanto no seu sorriso...
Vive-se por mim...
Morre-se por mim...
Sobrevive-se sem mim...
Eu sou o começo... e sou o fim...(e todo o meio)...
Sou o seu Objetivo...
a sua Razão que a própria razão ignora e desconhece...
Tenho milhões de definições...
Todas certas...todas imperfeitas...
todas lógicas...
Apenas em motivações pessoais...
todas corretas...todas erradas...
Sou Tudo...
Sem mim o Tudo é "nada"...
Sou amanhecer...Sou Fênix...renasço das cinzas...
Sei quando tenho que morrer...
E sei que sempre irei renascer...
Mudo os protagonistas...mas nunca a história...
Mudo de cenário...mas nunca o roteiro...
Sou o tempo...sem medidas...sem marcações...
Sou o clima...proporcional a minha fase...
Sou o vento...arrasto...balanço...carrego...
Sou o furacão...destruo...devasso...arraso...
Mas também sou o tijolo...eu construo e recomeço...
Sou cada estação...no seu apogeu e glória...
Sou o seu problema e a sua solução...
Sou o seu veneno e o seu antídoto...
Sou a sua memória e o seu esquecimento...
Sou o seu reino...o seu altar...e o seu trono...
Sou a sua prisão...Sou o seu abandono...Sou a sua liberdade...
A sua luz...a sua escuridão...o seu desejo de ambas...
Poderia continuar me descrevendo...
Mas já lhe dei uma idéia do que sou...
Muito prazer...Tenho vários nomes...
Mas...aqui na sua terra... chamam-me de...
A M O R!
Às vezes só quero respirar...não quero contar, nem falar, nem amar, nem jogar.
Só sentir o mundo acontecer e fazer parte dele como qualquer outro ser...talvez fingir ser.
Uma árvore quem sabe, que balança seus galhos ao léu, que desenha suas folhas ao receber a chuva, que abandona pedaços de si para deixar nascer as flores, respeitando um ciclo do Universo. Não que eu pense que a vida é feita de ciclos...a vida é o que é. Somos quem podemos ser. Eu não sou grande, nem sei se quero ser. Quanto mais me dou conta das coisas, mais vontade tenho de ficar no chão, me livrar dessa falsa pureza, dessa honestidade hipócrita, desse fingimento mútuo que há no viver, desse domínio que as relações se tornaram. Fica cada vez mais evidente que a relação entre homem e mulher, e dessa eu posso falar, está se tornando uma relação de "abrir mão". Eu gosto mas você não gosta, você não gosta mas eu gosto...Não importa, só se pode fazer o que um permite que o outro faça! Seja lá o nome que se dê para o amor, o gostar... é sinônimo de domar, moldar, tornar. É tudo aquilo que não é. Essa transformação egoísta que obrigamos o outro a passar. Por vezes até os princípios colocamos a prova. E da mesma forma quando isso nos acontece...porque ficar se não faz bem? Se não é o que gostaríamos que fosse, ou o que podemos suportar, ou se não estamos dispostos a aprender a gostar. Quem muda...quem desmuda...para onde se muda. Quando duas pessoas decidem que querem ter uma convivência, uma vida juntos, imagino que deva ser para compartilhar... outros jeitos de ser, outras possibilidades...algo como ampliador e não limitador ou conservador do que já somos. Hoje me sinto uma pamonha...rsrsrs. É isso mesmo. Eu não via, não sabia de nada. Mas o que me preocupa não é o que eu não via, é o que eu não vejo agora...o que ainda não sou capaz de ver. Nunca lembrar do que von Foerster fala fez tanto sentido: só vemos o que podemos ver.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Seus olhos me fascinam.
Quando me procuras finjo não estar...
Seus olhos são pretensiosos de mais,
traem o olhar e o desejo de ficar.
Quando te olho não dá tempo de disfarçar...
os olhos brincam de não se encontrar,
brincam de querer se encontrar...
se cruzam pelo ar
E finalmente por um segundo juntam-se num só olhar.
Eu suplico que leve meus olhos para passear,
para ver um outro mundo,
que não aquele que eles já aprenderam a ver...a ser!
Ontem fiz um tratado, selei com palavras o que meu coração não podia mais suportar.

Hoje fiz uma prece: que os Deuses cuidem de ti meu bem!

domingo, 15 de março de 2009

O MUNDO NÃO É NEGRO GAROTO!

Com insistência um Garoto tenta me convencer que o mundo é negro. Inútil tentativa. Mas vale a discussão. Adoro, me instiga, me aguça os sentidos uma bela discussão. Argumentos ele os tem, mas não me convencem. "O mundo é negro porque vivemos em uma sociedade corrupta, com pessoas que roubam pelo desejo de ter." Se o pobre rouba pelo desejo de ter o que não pode ter, ele é tão criminoso quanto eu, que roubei seu beijo. Não defendo alguém que rouba. Mas entendo que são vítimas de uma sociedade, de uma construção social. Roubar por roubar, o que é mais nobre: aquele que rouba para ter mais ou aquele que rouba para ter o mínimo? Você é só um garoto. Vítima de uma sociedade, do que tem, de onde cresceu, do que aprendeu a valorar. Ter não é tudo e isso você já deve ter escutado. Mas para muitos não ter nada é inaceitável. Experimente se colocar no lugar do outro, é um exercício interessante. Tente passar o dia sem comer, e chegar ao final do dia sem ter para quem pedir ou dinheiro para trocar por comida. Tente andar descalço pelas ruas e controlar sua raiva em saber que um garoto tem uma coleção de sapatos, e que provavelmente usa um ou dois pares com frequência. Controle seu desejo em ter um também. Não estou apontando o dedo, mas estou pensando sobre aquela discussão. Morin, um sociólogo, diz que “não podemos separar o mundo do modo como aprendemos a conhecê-lo”. Aprendeste, Garoto, a saber, o mundo de um modo (lugar) como poucos aprendem, nem por isso és melhor ou pior. Não acho que és privilegiado (a maioria acha que sim!), às vezes sim e às vezes não. Penso como seria se eu tivesse no seu lugar. Tendo aprendido a viver do modo como vivo, não sei se suportaria. Mas confesso que por vezes sinto vontade de “pegar a presença na aula e voltar para cama” ou de saber que a principal preocupação do mês é planejar a “agenda”. Acho grandioso que consiga ver a crueldade que existe, e não negligenciá-la. Isso chega a ser nobre diante da cegueira do mundo. Mas Garoto, não olhe tanto com os olhos, veja com o corpo, com a alma, com amor, com todos os seus sentidos...o mundo não é negro, ele não pode ser. Se for não haverá mais esperança, e do que viveremos se não tivermos esperança? Para que amar, para que filhos, para que estudar, para que respirar se não há mais salvação? Vivemos com objetivos, com desejos, nem que seja ir até a esquina ou beijar um desconhecido. Achá-lo bonito não é o que peço, aliás, não estou pedindo nada, não tenho direito de pedir. Apenas pense além das suas possibilidades, saia de si, movimente seu pensamento, olhe de outros jeitos. Eu consigo entender seu ponto de vista, e por isso não preciso te julgar. É preciso livrar-se de muitos pré-conceitos. Eu não sei como o mundo é, eu sei como eu o vejo. E esse jeito eu aprendi, não me ensinaram, mas eu aprendi! Como? Experimentando, com todos os sentidos. Aceitando que não há verdade, há pontos de vista. E toda vista é à vista de um ponto. Deixo as palavras de Boaventura “temos o direito de ser igual toda vez que a diferença nos inferioriza, temos o direito de ser diferente toda vez que a igualdade nos descaracteriza”[1]. Vou continuar pensando, quem sabe a nossa discussão continua...



[1]SANTOS, Boaventura de Souza.
E depois de velha ela quer dançar

Essa semana passei a ser aluna de Ballet. Sem nenhuma inibição, adentrei em um espaço que me é familiar: uma escola e uma sala de aula. Não uma sala convencional. Não há classes, nem cadeiras. Só espelhos, barras de apoio, paredes com desenhos e música! Além da dificuldade do corpo de acompanhar os movimentos, nada de anormal para mim. Mas confesso que, ao longo da semana, escutei algumas vezes “depois de velha vai dançar Balett”, e vi muitas caras de espanto com a notícia (não que eu tenha noticiado, mas as pessoas sabem muito mais de nossas vidas do que imaginamos). Velha parece exagero, mas para o Ballet é atípico uma iniciante que já ultrapassou uma década de vida. Sempre tive uma vontade imensa de dançar. Pela beleza dos movimentos, pela sincronia do corpo com a música, ou seria da música com o corpo?! Um corpo que se apropria de espaços, movimentos, expressões, limites. Um corpo que não é só um corpo, não é mero reprodutor de movimentos, um corpo que pensa, sonha, vive a poesia da música ou exala a música através dos movimentos?!. Não sei...não sei o que acontece. Só sei que a concentração que os movimentos exigem, me colocam em uma lógica tão complexa quanto qualquer outra linguagem. Como escrever, ler, falar, andar. Não planejei chegar aos 22 anos (quase 23) iniciando aulas de Ballet (aliás, quem me conhece sabe que não sou de muitos planos). E logo essa dança que é comumente iniciada na infância. Aconteceu! Não é uma linguagem totalmente estranha a mim, afinal dançar muitos dançam, ou se mexem...enfim. Estou me propondo a aprender uma técnica de dança. Essa é a grande diferença entre eu as pequenas alunas (sim! sou a tia da sala, mais velha inclusive que as professoras): a temporalidade. Não estou aprendendo só uma técnica, estou aprendendo outro jeito de dizer, outro jeito de olhar, outro jeito de pensar! Complexo porque me exige um tipo de coordenação motora que não estou acostumada a usar. Digo inclusive, que não aprendi a usar, afinal para sentar e escrever não é preciso mais do que o domínio dos membros superiores e inferiores, e da motricidade ampla e da fina. E olhe lá, um domínio entre aspas mesmo! As matérias da escola (que deveriam ser linguagens) fazem isso, nos limitam ao que é preciso saber para ser um igual. Que bom que descobri um modo “linguageiro” de aprender as técnicas!
Não sei, só sei que foi assim![1]

Tudo começou com uma dança. Um corpo de dança, que me apresentou uma dança. Uma dança de olhar sério, coração distante e alma doente, tão doente que não pode perceber que além das mãos que conduziam seu corpo havia um olhar que buscava ser correspondido. Não foi. O mundo é um “redor”
[2] e por isso, meus olhos e minha alma se encheram de vida, e uma nova dança me foi concedida! Dessa vez olhei nos olhos, na boca, na voz, nas mãos, nos sentidos e aceitei o convite do Universo. Um Menino sem explicação derrubou todas as minhas certezas, invadiu meus sentidos, bagunçou uma ordem que me ensinaram a crer. Sem rótulos, sem verdades, sem palavras. Sentir, agir, ser. Mas livrar-se de anos de certezas não é fácil...Sem promessas você ficou. Não tentei te saber, nem te gostar. Bobinha, isso não é minha escolha. Por ironia, eu tinha uma certeza: suas asas são maiores que suas raízes, sua vontade de ser é maior que vontade de que te saibam. Ah Menino, como sou feliz por te encontrar ou por ter sido encontrada, por um encontro. Obrigada por beijar, obrigada pela carona, obrigada pela cama, obrigada pela conversa, obrigada pela taça de vinho e pelo copo de cerveja, obrigada pela pizza e pelo pastel, obrigada pela Centopéia, obrigada pelo filme, obrigada pelas discussões teóricas, obrigada pelas discussões, obrigada pelo mal-humor, obrigada pelos abraços, obrigada pelo silêncio, obrigada pelos sorrisos, obrigada pelas bolinhas, obrigada pela música, obrigada pela poesia, obrigada pela grama, obrigada pelas lágrimas, obrigada pelas risadas, obrigada pelo suco, obrigada pelos vídeos, obrigada pelo colchão e pelo chão, obrigada pelos museus, obrigada pelas ruas, obrigada pelas cocadas, obrigada pelo sofá, obrigada pelos sanduíches, obrigada pela arte, abrigada pela sinceridade, obrigada pela partida, obrigada pelo passo adiante, obrigada pelo não “dá mais”, obrigada pelo “não sei o que o que acontece mais acontece (dentro de mim e por ti)”, obrigada pela vida, obrigada pelas cores, obrigada pela solidão, obrigada por sentir, obrigada pelo incerto, obrigada pela dança, abrigada pela rasteira. E quando acho que já estou deitada e suja o suficiente, vem você Menino me provar que ainda tem mais. Na dança com as palavras, meus pensamentos se confundiram, me confundiram. Não pude negar as dúvidas que inquietavam meu coração. Pobre guria, mal sabe que o que lhe afligia é a maior mentira que já lhe contaram. O humano não foi feito para um alguém. Não há príncipe encantado. Fechei os olhos. Apertei o quanto pude, mergulhei na solidão, não sufoquei as lágrimas, nem a tristeza (que ainda bate). O Menino foi para o mundo, cheio de incertezas, com sua arte e sua poesia fazê-lo mais bonito. Não pude conter meu desejo egoísta de querer que o mundo dele fosse eu. Guardei o desejo, para compartilhá-lo apenas em mais uma carona e um beijo de até logo. Quando achei que estava no chão e muito, muito suja me sujei mais com a dor das lembranças do que não vivi, mas sorri e aceitei a imperfeição do mundo, da vida. Lembro de uma frase do Drummond “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Não sofro tanto, só quando escorrego e sem querer encontro às provas dos seus encontros, que não são comigo. Perdoai, Senhor ela não sabe de nada. Essa guria não sabe de nada. Luto contra o desejo de posse. Mergulho na solidão e encontro a beleza e a poesia do mundo. Como um pacto comigo mesma me impedi de te pedir qualquer coisa, me proibi de te procurar, não posso te encontrar agora, porque agora eu também estou de partida. O que sei, o que sou, o que sinto, você vai saber (você precisa saber... é lindo!) porque mais uma vez tem uma certeza no meu “ser”: agente ainda se encontra. Sabe porque? Eu também não. Mas agora fazes parte de mim. Te saber e te gostar já não preciso falar. Eu não escolhi, apenas senti. Começou com uma dança, que se seguiu de uma caminhada, que constituiu caminhantes, que escolheram sair de si para sentir, visitar, experimentar o mundo. Abri os olhos, meus sentidos, não para ver a verdade, mas para não perder mais nenhum detalhe. Para contemplar o céu, para sentir o vento contornar meu corpo, para flutuar ao invés de caminhar, para saber outras pessoas, para ver poesia até em um joelho roxo! Caminhar é preciso (alguém inteligente, que me perdoe eu não lembro, disse isso)!
Um beijo e até!

[1]Fala do célebre personagem do Auto da Compadecida, Chicó
[2]Explicação de um João, que não é de barro, para uma forma arredondada, um círculo ou coisa parecida.